A história de Antônio José Fernandes, um idoso de 112 anos que vive em Campo Grande (MS) e pode ser o homem mais velho do mundo, ganhou destaque no Jornal Midiamax na última semana. No entanto, dias antes, Aniceto Benedito Silva, outro morador da Capital, de 113 anos de idade, também poderia ser inscrito no Guinness Book para reivindicação do recorde da longevidade, se não tivesse falecido no dia 21 de novembro. Ainda assim, os dois “supercentenários” evidenciam a cidade morena como um lugar onde se é possível passar dos 110.
Possível homem mais velho do mundo (ou pelo menos de Campo Grande) até o dia 21 de novembro, Aniceto Benedito da Silva vivia do Sirpha Lar do Idoso, localizado no bairro Nova Lima. Aos 113 anos, ele era conhecido como “Príncipe” no local.
Segundo o Sirpha, o idoso vivia há 14 anos nas dependências da entidade e já tinha uma saúde delicada por conta da idade avançada, além de enfrentar alguns problemas cardíacos que dificultavam tratamentos médicos.
Natural de Rosário Oeste, em Mato Grosso, Aniceto nasceu no dia 18 de abril de 1911 e, ao longo de mais de um século de existência, viu as duas últimas guerras mundiais acontecerem e presenciou a globalização dominar e transformar o planeta.
Antes de se mudar para o asilo, “Príncipe” era interno do Hospital São Julião, em Campo Grande. Lá, passou por tratamentos contra a hanseníase e até trabalhou na unidade de saúde.
“O primeiro contato dele conosco aconteceu quando já estava debilitado e com sequelas da hanseníase. Ele vinha regularmente para fazer curativos e participar de outras atividades, mas ainda não era residente. Só em junho de 2010 que ele ficou definitivo. Os mais próximos o chamavam de ‘Príncipe’, sempre cavalheiro e atencioso”, relata o Lar dos Idosos.
Aniceto era figura famosa na região norte da Capital por ter sido benzedor no passado e, principalmente, porque oferecia comida para pessoas necessitadas e em situação de rua. Sua casa era considerada um abrigo para quem precisasse.
De acordo com o Sirpha, “Príncipe” sempre foi muito alegre e adorava participar das atividades e eventos promovidos pela entidade. Mesmo com a idade avançada, não perdia uma.
Com um legado de mais de 113 anos, o idoso faleceu de causas naturais no último dia 21 de novembro. Ele era o possível homem mais velho de Campo Grande e, quem sabe, do mundo, a tirar pelos dados registrados no livro dos recordes.
Agora, quem desponta na longevidade da Capital, pelo menos por enquanto, é Antônio José Fernandes, de 112 anos. O morador do bairro Guanandi, inclusive, também pode ser o homem mais velho do mundo, já que, no final de novembro, o Guinness Book reconheceu como idoso mais longevo um senhor quatro meses mais novo que ele.
Mas, independente disso, aos 112, Antônio perpetua o legado dos centenários que passaram dos 110 e evidencia que a Capital de Mato Grosso do Sul apresenta condições que ajudam idosos a viverem por mais de um século.
Para a neurocientista Larissa Galli, alguns fatores locais podem, de fato, contribuir para a longevidade em Campo Grande. “A cidade possui uma boa qualidade de vida para os padrões brasileiros, incluindo infraestrutura de saúde e acesso a alimentos frescos e menos processados”, inicia a especialista.
“O clima quente favorece a exposição ao sol, essencial para a síntese de vitamina D, que desempenha um papel importante na saúde óssea e imunológica. Além disso, muitos idosos em Campo Grande têm rotinas ativas e redes de suporte social, o que é crucial para o bem-estar emocional e físico“, comenta a profissional.
No entanto, Galli enfatiza que a longevidade extrema vai além das condições da cidade e está mais relacionada a uma combinação de genética, estilo de vida, e fatores ambientais.
“A genética tem um papel significativo na longevidade, influenciando entre 20% e 30% da expectativa de vida de uma pessoa. Em casos de supercentenários, é comum encontrar famílias com histórico de longevidade. Porém, mesmo com uma predisposição genética, fatores como boa alimentação, atividade física e controle de estresse são essenciais para atingir idades avançadas”, ressalta.
Além do senhor que faleceu com 113 anos recentemente, a neurocientista cita registros de outros idosos que passaram de um século de vida na Capital Morena. “Como uma senhora chamada Odete Rosa, que chegou aos 109 anos, um senhor que anos atrás foi relatado ter vivido até os 117 anos. Possuo uma amiga pessoal que a avó viveu até os 103 anos e faleceu em maio deste ano… Essas histórias não são incomuns na região, mostrando que uma combinação de genética, estilo de vida e suporte local contribui para vidas longas e saudáveis”, relata a especialista.
Larissa ainda explica que seu embasamento está fundamentado em um amplo conhecimento em Neurociência do Comportamento e Estilo de Vida e em estudos que conectam saúde física, emocional e comportamental à longevidade.
“Campo Grande é uma cidade que está no ranking nacional de cidades com qualidade de vida, e expectativa longeva. Temos muito o que melhorar, dentro do ponto de vista de quantificação desses números, mas estamos no caminho“, completa a neurocientista.
Por fim, ela elenca um conjunto de fatores que podem contribuir para que uma pessoa chegue aos 110 anos ou mais: