“Largado às traças”, geralmente, é uma expressão popular que faz menção ao abandono ou sujeira em algum ambiente. É um paralelo entre o dito popular e curioso inseto, responsável pela destruição de livros e roupas e que nesta estação ganha destaque.
Isso porque as traças, mesmo com ciclo de desenvolvimento o ano inteiro, encontram condições ideais na umidade do verão em Mato Grosso do Sul para se reproduzirem.
Além disso, há mais de uma variedade do inseto. Danilo Bandini Ribeiro, do Instituto de Biociências e professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), explica que a traça-de-livro e traça-de-roupa são espécies diferentes.
A traça-de-roupa passa por metamorfose. O inseto forma um casulo enquanto está se alimentando, ficando na parte interna dele. Após a transformação, ela viverá como uma pequena mariposa.
As traças de roupas se alimentam de materiais têxteis de fibra natural ou, ainda, de tecidos que contenham suor. Logo, é muito comum encontrá-la no guarda-roupa ou armários que ofertem condições favoráveis de temperatura alta, umidade e falta de limpeza frequente.
A traça-de-livro também é encontrada facilmente nos centros urbanos. Diferente da traça de roupa, ela não cria asas ou casulos, e dificilmente destroem roupas.
Logo, a aparência dela pode causar mais estranheza para quem tem medo de insetos. Seu corpo é alongado, odeia a luz, e se esconde em locais como estantes, armários, sofás, rodapés e outros locais a que possam ter acesso fácil.
Sua nutrição vem de substâncias ricas em celulose, como o papel, e preferem ambientes úmidos e escuros, por exemplo, estantes de livros e bibliotecas seus locais favoritos.
Ramon Mello, biólogo com especialização em Zoologia e docente do curso de Ciências Biológicas da UFMS, explica que as traças ou traças-de-livros são animais invertebrados pertencentes a classe dos insetos. E são consideradas um dos grupos mais antigo, já que seus ancestrais surgiram antes da origem das asas dos insetos, ou seja, são insetos sem asas (ápteros).
Outra condição que caracteriza as traças como insetos primitivos é o fato de possuírem desenvolvimento direto (ametábolo), ou seja: os imaturos eclodem dos ovos já com a morfologia similar a dos indivíduos adultos – ao contrário de outros insetos, como o mosquito da dengue, das borboletas e mariposas que eclodem dos ovos na forma de larvas cilíndricas (vermiformes) e, posteriormente, sofrem metamorfose para se transformam em adultos.
As traças pertencem à ordem dos insetos chamados de Zygentoma, nome em grego que significa corpo segmentado. Dentro da ordem Zygentoma, existem 650 espécies distribuídas ao redor do mundo, sendo no Brasil conhecidas 31 espécies.
Sendo assim, as estimativas são de que existam cerca de 1.000 espécies no mundo e 220 no Brasil que ainda não foram descritas e catalogadas pela ciência. Fato que se deve a falta de biólogos especialistas no estudo desses insetos.
“As traças são insetos bem pequenos com um comprimento corpóreo variando entre 2 – 20 mm, possuem coloração marrom a cinza com escamas que refletem uma coloração prateada. Possuem um longo par de antenas na extremidade anterior (cabeça) e três longos filamentos posteriores (cauda). São insetos de hábito noturno que gostam de ambientes escuros e úmidos, motivo pelos quais no verão esses animais são mais encontrados, como tem ocorrido aqui em Campo Grande”, explica Ramon Mello.
A maioria das espécies das traças habitam na natureza e se alimentam de matéria vegetal em decomposição, como folhas caídas no solo, e de fungos. O problema é que algumas espécies se adaptaram aos ambientes urbanos, alimentando-se da celulose e do amido presente na composição do papel, além da cola utilizada na encadernação de livros. Tudo isso é o que causa descolamento e soltura de páginas, por exemplo.
“Existem relatos de grandes prejuízos econômicos e culturais causado pelas traças por danificarem cédulas de papel-moeda, coleções de selos, obras de arte, papel de parede, documentos históricos entre outros. Esses insetos são inofensivos a saúde humana, não sendo transmissores de doenças e não causam acidentes por picadas ou mordidas, o inconveniente desses insetos seria mesmo a danificação de papéis (livros e documentos)”.
Mas, enfim: as traças são perigosas? Bandini continua: “Só para as roupas mesmo”. Ou seja, ambas espécies não oferecem nenhum perigo para os humanos e também são inofensivas para animais domésticos. “As duas gostam de umidade e calor, mas isso não necessariamente indica má higienização”, descreve.
Assim, apesar de não apresentar risco à saúde, traças são consideradas pragas diante do potencial em destruir materiais e alimentos. Logo, dicas de higienização podem facilitar a redução dos bichos em casa.
“Além disso, tem soluções caseiras para espantar esses insetos, como uso de cascas de limão e laranja ou cravo da Índia nos armários e gavetas”, conclui Bandini.