Logo que meu filho acordou, no sábado passado, disse a ele para dar parabéns para a mãe, porque era o Dia das Mulheres. Ele ficou pensativo e, antes de ir, perguntou se “poderia ser menina”. Achei a pergunta estranha e tentei entender o que ele queria dizer com aquilo. Logo ele repensou a frase e questionou se existia o Dia dos Homens.
O Vitor tem apenas três anos, mas sua lógica me pareceu interessante: se no Dia das Crianças ele ganha presentes, talvez uma menina poderia ganhar algum brinquedo no Dia das Mulheres, e um menino, no Dia dos Homens. Entendi, então, que não havia nada fora do normal, apenas uma criança procurando oportunidades para ganhar presentes.
O Vitor é do tipo que quando sai para passear na rua, não volta sem uma flor para dar para a mãe, e quando eu preciso sair para algum lugar, ele me diz para ficar tranquilo porque estará protegendo a casa. Há alguns dias, na escola, ele cismou que queria casar com sua melhor amiguinha e até perguntou a ela se queria se casar com ele. Ela disse que não, e ele, coitado, levou o primeiro “fora” da vida.
A professora percebeu que ele estava triste e perguntou o motivo. Ela, que depois nos narrou o episódio, ficou curiosa:
– Mas o que é casar para você, Vitor?
– É ficar junto, fazer as coisas juntos, igual o papai e a mamãe.
A professora perguntou, então, se eles poderiam fazer isso sendo amigos. Ele prontamente disse que sim, e seu humor mudou.
O que quero dizer é que as crianças, mesmo com pouca idade, estão atentas a tudo, mas precisam de orientação e esclarecimento sobre questões importantes. E isso envolve o ensino (e o exemplo) sobre como deve ser a conduta masculina, no caso dos meninos, e a feminina, no caso das meninas – sempre, obviamente, de maneira proporcional à idade.
A masculinidade e a feminilidade não são uma “construção social”
Hoje, lamentavelmente, falar sobre um assunto tão importante se tornou um tabu, algo que alguns tentam até mesmo criminalizar. Mas se o seu bom senso segue vivo e você não reduziu a sexualidade dos seus filhos a uma mera “construção social”, este artigo é para você.
A seguir trago algumas dicas para ajudar nessa tarefa. Mas antes cabe dois avisos: o primeiro é que, embora seja muito mais fácil que homens desenvolvam os pilares da masculinidade nos seus filhos, e que mulheres desenvolvam a feminilidade nas filhas, tanto um quanto o outro podem adaptar as dicas e usá-las em momentos e contextos específicos.
E o segundo aviso é sobre o bom senso. Quando sugiro ensinar os meninos a terem firmeza emocional, por exemplo, isso tem a ver com a missão masculina de ser o primeiro estabilizador do lar. Justamente por isso, desde cedo os pequenos devem desenvolver mais a fundo essa característica.
Por outro lado, isso não significa que mulheres não precisem aprender e desenvolver a firmeza emocional. Da mesma forma, ensinar as meninas a cozinhar ou a cuidar do lar não significa que somente elas devam fazer isso, pelo contrário.
Em outras palavras, o fato de os homens serem os primeiros protetores da família não isenta as mulheres de também protegerem seus filhos, assim como o fato de as mulheres seremas principais responsáveis pelo cuidado do lar não dispensa os homens das atividades domésticas.
Dito isso, vamos às sugestões para ajudar a construir os pilares da masculinidade e feminilidade em seus filhos:
7 dicas para incentivar a masculinidade nos meninos
1. Desenvolva a responsabilidade desde cedo: dê pequenas tarefas físicas em casa, como carregar sacolas, ajudar em reparos simples e cuidar do jardim. Lembre-se de fazer com que ele se sinta realmente útil com frases como “Que bom que você me ajudou nisso”, ou “Se eu fizesse sozinho, demoraria muito mais”. Isso faz com que ele desenvolva o senso de proteção e serviço.
2. Incentive atividades físicas e desafios: incentive-o a praticar esportes, aprender a se defender (se possível, matricule-o em uma boa academia para aprender uma arte marcial) e testar os próprios limites, o que ajuda a desenvolver coragem, disciplina e força.
3. Ensine respeito, liderança e hierarquia: aproveite situações do dia a dia para ensiná-lo a proteger os mais fracos, respeitar mulheres e idosos, tomar iniciativa e liderar em situações cotidianas. Homens valorizam muito a hierarquia; ensine-o a entender o seu lugar em cada ambiente.
4. Valorize a firmeza emocional: ensine que é normal sentir emoções como medo ou angústia, mas que a masculinidade envolve autocontrole e resolução racional dos problemas. Incentive-o a enfrentar os medos e a resolver problemas, e comemore toda pequena conquista.
5. Ensine sobre honra e palavra: o “fio do bigode” é algo que se perdeu com o tempo. Seu filho precisa saber que um homem deve ser confiável e que a palavra tem valor.
6. Cultive um espírito aventureiro: Brincadeiras físicas, exploração ao ar livre, superação de desafios físicos e participação em competições são muito úteis para fortalecer a identidade masculina.
7. Reforce sempre o papel de provedor e protetor: Mostre, pelo exemplo e ensino, que homens devem cuidar da família, proteger aqueles que amam e ser trabalhadores responsáveis.
7 dicas para incentivar a feminilidade nas meninas
1. Incentive a delicadeza e a gentileza: Ensine boas maneiras, tom de voz agradável (evitando gritos e palavrões), a importância do sorriso e da postura cuidadosa. Pequenos gestos, como ajudar um irmão menor a se vestir, ajudam a desenvolver um comportamento acolhedor e atencioso.
2. Valorize o cuidado com a aparência: Ensine sobre roupas femininas, higiene pessoal, cabelo bem cuidado e elegância natural. Isso fortalece a autoestima e reforça o valor da feminilidade como algo belo e natural.
3. Desenvolva habilidades domésticas e de organização: Ensine a cozinhar, cuidar de casa, organizar o espaço e receber bem as pessoas. Desde cedo, as meninas podem aprender que manter um ambiente bonito e organizado é uma forma de carinho pela família.
4. Encoraje a valorização da maternidade: Mostre como a maternidade é bela e significativa. O clássico brincar de boneca deve ser estimulado, já que ajuda a desenvolver o senso de cuidado e proteção. Ter contato com bebês também é muito positivo.
5. Ensine sobre a importância do casamento e da família: Converse sobre a construção de um lar, a parceria com o marido e o papel da mulher na estabilidade familiar. Isso a ajudará a ver o casamento não como um fardo, mas como uma missão honrosa e gratificante.
6. Fomente interesses tipicamente femininos: Artes, decoração, moda, literatura clássica, música, culinária e hospitalidade são áreas que ajudam a enriquecer a feminilidade.
7. Incentive-a a aprender defesa pessoal: Esse item pode parecer estranho, pois não tem a ver diretamente com feminilidade. Mas feminilidade não significa fragilidade. Se para um homem é importante ter noções de defesa pessoal, para uma mulher isso é mais do que essencial. Se possível, matricule-a em uma arte marcial – de preferência, jiu-jitsu.
Por fim, o mais importante é que os pais sejam exemplos vivos do que ensinam. O menino precisa ver o pai como um homem forte e confiável, e a menina precisa enxergar a mãe como uma mulher graciosa e segura. O ambiente familiar molda a identidade das crianças muito mais do que palavras. Faça sua parte!
Gabriel Sestrem Jornalista da Gazeta do Povo e autor do livro ‘Entre Lobos e Cães Pastores: O poder da Paternidade’ | Escreve sobre paternidade, masculinidade e família | @gabriel.sestrem