Enquanto o governo Lula se ocupa com acenos para o exterior e para a Câmara Federal – seja a ideia de trazer estudantes estrangeiros que universidades americanas expulsam, seja alocando recursos para emendas parlamentares com verbas que deveriam ter outro fim – a verdade nua e crua, que precisamos encarar, é que nossas universidades e centros de pesquisa agonizam. É o retrato fiel de quem convida visitas para uma casa com o telhado desabando e a dispensa vazia. De que serve esse marketing internacional se o básico, o dever de casa, está sendo negligenciado aqui dentro?
Para quem não vive essa realidade de perto, eu explico: o dinheiro para as universidades federais – aquelas que formam, ou deveriam formar nossos médicos, engenheiros, professores e cientistas – nunca jorrou. Mas a situação degringolou de vez. Em abril de 2025, vimos o governo correr para recompor um orçamento que ele próprio havia retalhado e depois restringido de forma absurda, liberando verbas em migalhas. Imagine você, cidadão, tentando gerir sua casa recebendo seu salário aos pedaços, dia após dia, sem a menor garantia do amanhã. É este o sufoco imposto às nossas universidades, que só respiraram por aparelhos após muita gritaria e pressão. Isso não tem nome de planejamento; isso é a mais pura incompetência, é tentar apagar incêndio jogando gasolina.
O governo Lula precisa urgentemente entender, e parece que ainda não entendeu, que acenos simbólicos não constroem uma nação forte e soberana. Sem investimento sério, contínuo e, acima de tudo, bem gerenciado nas nossas universidades e na nossa ciência, o Brasil continuará sendo este eterno refém de crises
A visão distorcida quanto aos investimentos também pode ser facilmente percebida na falta de valorização dos nossos cientistas. As bolsas de pesquisa, que já eram uma vergonha, amargam dois anos sem qualquer reajuste, engolidas pela inflação. O valor mal cobre o básico para sobreviver, quem dirá para que se dediquem integralmente a descobertas que poderiam, de fato, transformar a vida dos brasileiros. Isso não é um descuido, é um projeto para que nossos melhores cérebros desistam ou fujam do país.
Afirmo com todas as letras: sem dinheiro constante e suficiente, a pesquisa não tem como avançar. Comprar equipamentos modernos lá fora? Uma verdadeira batalha épica contra a burocracia estatal, altos impostos de importação e a total falta de incentivos. Desenvolver novas tecnologias, buscar curas para doenças, encontrar soluções para nossos graves problemas ambientais... tudo se arrasta, tudo fica mais difícil, quase impossível.
Hoje, não há como negar, o futuro passa pela Inteligência Artificial. Ela tem o poder de revolucionar tudo, desde o atendimento no SUS até a segurança pública, além de gerar empregos e novas indústrias. Mas o Brasil? O Brasil parece satisfeito em assistir a esse trem da história passar da janela. Falta uma política clara, um plano nacional de verdade, que organize os esforços, que invista pesado – e quando digo pesado, é pesado mesmo – na formação de especialistas e no desenvolvimento de uma IA com a nossa identidade, protegendo nossos dados e usando essa tecnologia para melhorar a vida do cidadão comum. Não um plano para atrair Big Techs apenas para ficarmos reféns de poucos concentradores de tecnologia. Sem isso, seremos, mais uma vez, meros e passivos consumidores. Uma vergonha!
E não é por acaso que outros países disparam na nossa frente. Enquanto nações como os Estados Unidos investem mais de 3% de toda a sua riqueza (PIB) em pesquisa e desenvolvimento, o Brasil patina vergonhosamente pouco acima de 1%. E o pior, o que mais revolta: esse dinheiro minguado ainda é pessimamente administrado, inconstante, e depende demais da caneta e da “boa vontade” do governo de plantão. Não se constrói futuro sólido sobre uma base tão podre e frágil. Essa instabilidade crônica – de dinheiro, de regras, de prioridades – é o verdadeiro câncer da nossa ciência. Ela impede que nossos pesquisadores sonhem com estudos de longo prazo, que as universidades se modernizem de fato e que o país, enfim, colha os frutos do conhecimento que ele mesmo produz.
O governo Lula precisa urgentemente entender, e parece que ainda não entendeu, que acenos simbólicos não constroem uma nação forte e soberana. Sem investimento sério, contínuo e, acima de tudo, bem gerenciado nas nossas universidades e na nossa ciência, o Brasil continuará sendo este eterno refém de crises, perigosamente dependente de tecnologias importadas e desperdiçando o imenso potencial da sua gente. E que fique claro: não se trata de um gasto, como querem fazer crer os burocratas de sempre. Trata-se do investimento mais estratégico, mais vital, que um país pode e deve fazer. O eleitor, seja de que lado for, precisa acordar e cobrar essa mudança de rota radical. Afinal, é o futuro de todos nós, o futuro dos nossos filhos, que está em jogo. E nós não vamos assistir a isso calados.
Requião Filho é deputado estadual no Paraná.