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Religiosidade, espiritualidade e exercício físico: o tripé que pode salvar vidas

Por Renato Ferreira, Ednei Santos e Marcelo Silva

Redação
Por: Redação Fonte: Gazeta do Povo
06/07/2025 às 08h36
Religiosidade, espiritualidade e exercício físico: o tripé que pode salvar vidas
Cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza, mas de fé madura. Exercitar-se é um ato de louvor. Pedir ajuda é um grito de coragem. E viver, mesmo em meio às lutas, é uma oração silenciosa que ecoa até os céus. (Foto: Ben White/Unsplash

Vivemos tempos em que a dor da alma tem se tornado uma epidemia silenciosa. O suicídio, essa tragédia evitável, ceifa mais de 700 mil vidas todos os anos no mundo. No Brasil, infelizmente, os números não param de crescer. Sentimos, como estudiosos, como cristãos e como cidadãos, o chamado para olhar essa realidade com compaixão, fé e coragem. É por isso que escrevemos este artigo, não apenas como pesquisadores, mas como irmãos de caminhada, para apresentar caminhos que unem ciência, espiritualidade e movimento.

Mais do que uma simples revisão teórica, este trabalho nasceu da convicção de que a fé não é passiva, e que o corpo é templo do Espírito Santo (1Cor 6,19). Por isso, exploramos de forma integrada como a religiosidade, a espiritualidade e a prática regular de exercício físico atuam como potentes aliados na prevenção do suicídio. A ciência tem confirmado aquilo que o coração já pressentia: quando o ser humano se sente parte de algo maior e cuida de si com amor e propósito, o risco de desistir da própria vida diminui.

Cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza, mas de fé madura. Exercitar-se é um ato de louvor. Pedir ajuda é um grito de coragem. E viver, mesmo em meio às lutas, é uma oração silenciosa que ecoa até os céus

Nos estudos que revisamos entre 2012 e 2024, encontramos evidências tocantes. A oração, a meditação, a participação em comunidades de fé, o louvor e o contato com o sagrado proporcionam suporte emocional, pertencimento e sentido existencial. Como escreveu Koenig (2012), "a religiosidade oferece um recurso vital em momentos de crise". Já a espiritualidade, essa busca íntima de conexão com o divino, ainda que fora de ritos formais, alimenta a esperança e fortalece a alma cansada.

Do ponto de vista científico, essas práticas de espiritualidade não apenas confortam o coração, mas transformam o cérebro: estimulam a liberação de serotonina, reduzem a atividade da amígdala (centro do medo) e aumentam a capacidade de controle emocional. Ou seja, orar e se abrir à fé traz benefícios reais, mensuráveis, profundos.

Mas não para por aí. O corpo também precisa de cuidado. O exercício físico regular, seja uma caminhada, uma dança, um esporte ou até um momento de alongamento, é um remédio poderoso contra a depressão e a ansiedade. Estudos mostram que o exercício libera endorfina, dopamina e serotonina, substâncias que nos fazem sentir bem, vivos, capazes. Além disso, melhora a qualidade do sono, combate o estresse e estimula a neuroplasticidade, ou seja, ajuda o cérebro a se renovar.

Nos tocou profundamente descobrir que mesmo pequenos gestos de movimento podem salvar uma vida. Um jovem que dança e canta no grupo de jovens, uma senhora que dança na pastoral do idoso, um grupo que caminha e reza o terço pelas ruas exercendo sua espiritualidade, são práticas simples, mas com enorme poder transformador.

E quando unimos fé e movimento? O impacto é ainda maior. A integração entre religiosidade, espiritualidade e exercício físico oferece um escudo contra o desespero. Como destacamos no artigo: “a combinação desses fatores pode oferecer uma proteção adicional contra comportamentos suicidas, funcionando como uma intervenção complementar às estratégias convencionais de saúde mental”.

Cremos que a Igreja tem um papel fundamental nesse processo. Não apenas como espaço de acolhimento e evangelização, mas também como promotora de saúde integral. Que nossas comunidades se tornem centros de vida: que acolham com empatia, orientem com sabedoria e incentivem hábitos saudáveis. Que o catequista não tema falar sobre sofrimento psíquico. Que o padre, o ministro, o agente de pastoral saibam que fé também se demonstra cuidando do corpo e da mente.

A espiritualidade cristã, como ensinava Gregório de Nissa, nos lembra que somos corpo, alma e espírito, uma unidade sagrada. Ignorar qualquer uma dessas dimensões é ferir nossa própria essência. Viktor Frankl, sobrevivente de campos de concentração, dizia que a vida só se sustenta quando encontramos um sentido. E a fé, quando vivida de forma autêntica, é capaz de oferecer esse sentido mesmo nas noites mais escuras da alma.

Portanto, nossa mensagem é clara: cuidar da saúde mental não é sinal de fraqueza, mas de fé madura. Exercitar-se é um ato de louvor. Pedir ajuda é um grito de coragem. E viver, mesmo em meio às lutas, é uma oração silenciosa que ecoa até os céus. Convidamos você, leitor, a abraçar esse caminho de fé e movimento. Que nossas igrejas sejam também lugares de promoção da vida em sua plenitude. Que o testemunho de esperança substitua o silêncio. Que, juntos, como irmãos, possamos dizer a quem sofre: você não está só.

 

Renato Ferreira, padre graduado em Teologia, licenciado em Filosofia, é pároco na Paróquia Santa Joana d’Arc, na Diocese de Santo André (SP) e autor do livro “Dons Carismáticos – A alma em êxtase”; Ednei Fernando dos Santos, professor graduado em Educação Física e Enfermagem, especialista em Neuroanatomia e Neurofisiologia, é mestre em Ciências da Reabilitação e doutor em Ciências da Saúde – Medicina I, e atua como 1º Sargento do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo; Marcelo Donizeti Silva, professor graduado em Educação Física, com especialização em Nutrição Esportiva e Funcional, é doutor em Ciências da Saúde e pós-doutorando na mesma área e triatleta. Integra o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo como cabo.

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